Paixão de Verão era o título da novela que Walther Negrão concebeu tendo como base as belíssimas paisagens do Ceará. Tão logo as primeiras notícias sobre a trama começaram a ser ventiladas, o título foi alterado para Summertime e, por fim, Tropicaliente.
A ideia de ambientar uma novela em Fortaleza partiu de Paulo Ubiratan, então diretor de núcleo da TV Globo. Durante um almoço com o governador do Ceará, Ciro Gomes, Ubiratan manifestou o desejo de manter ali a base de gravações deTropicaliente. O político, então do PSDB, pediu ao diretor que abordasse a infraestrutura turística e a modernidade das indústrias cearenses.
Para que fosse possível gravar por 15 dias, durante oito meses, no Ceará, a Globo precisou contar com o auxílio do governo do estado. 700.000 dólares foram investidos por Ciro Gomes na produção. A rede hoteleira foi convencida a montar um pool para acomodar a equipe técnica e o elenco em sessenta apartamentos. Para transportar artistas e técnicos do Rio de Janeiro até Fortaleza, a Varig, acionada pelo governo, se propôs a dar descontos de 75% nas tarifas. Os outros 25% foram cobertos pela Companhia de Desenvolvimento Industrial e Turístico do Ceará, Coditur. Outras regalias foram oferecidas a Globo: despesas em cafés da manhã, aluguel de um helicóptero para gravações em alto-mar; também ônibus, automóveis, jangadas, barcos de pesca e bugres. O auxílio do Estado barateou em 25% o custo médio de cada capítulo da novela, orçado em 35.000 dólares.
A cidade cenográfica que abrigava a aldeia de pescadores comandada por Ramiro (Herson Capri) fora construída no terreno onde era mantida a colônia de férias dos funcionários da Companhia de Eletricidade do Ceará, na praia de Porto das Dunas, município de Aquiraz. O governo realizou a ligação da rede elétrica e também cuidara da segurança do local.
Questionado sobre os gastos com Tropicaliente, o governo cearense apresentou dados que comprovavam a eficácia do merchandising que a novela promoveria em favor do turismo na região.
O “efeito Tropicaliente”, como esperado, se revelou um grande sucesso. Nos meses de baixa temporada, os hotéis do Estado permaneceram lotados e o movimento de turistas foi 30% superior ao verificado nos anos anteriores. Os destinos preferidos dos turistas eram as dunas onde François (Victor Fasano) andava à cavalo, as praias em que Dalila (Carla Marins) namorava, e a vila comandada por Ramiro (Herson Capri). Antônio de Matos Brito, então diretor do Coditur, calculava um aumento no setor de aproximadamente 17 milhões de dólares. O aumento de turistas levou a prefeitura de Beberibe, em ação conjunto com o hotel Praia das Fontes, a criar uma escola para formação de guias turísticos, além de cursos para garçons e recepcionistas. A Câmera de Vereadores do município também entregou ao ator Stenio Garcia o título de cidadão beberibense, homenagem recebida em nome de todo o elenco.
Ainda hoje, o turismo em Fortaleza se ampara no sucesso deTropicaliente. Em viagem ao estado, em agosto de 2012, pude comprovar a força da novela por lá. Passeios turísticos nos conduzem até locações da novela, como a gruta em que Açucena (Carolina Dieckmann) perde a virgindade, localizada na praia das Fontes. “Quem encontrar a virgindade perdida; favor devolver!” é a piada recorrente entre os guias turísticos e a população local.
A chuva atrapalhou as primeiras cenas de Tropicaliente em Fortaleza. A equipe de produção se viu obrigada a preparar quatro roteiros de gravações: um para o sol, outro para chuva, mais um para chuva fina, e outro para chuva em apenas um período do dia. A equipe técnica acordava às 04h30 e os atores, às 6h.
As primeiras listas de elenco de Tropicaliente traziam Esther Góes e Jofre Soares; ele, como o Velho Buja, personagem vivido por Nelson Dantas. Carolina Dieckmann, que havia estreado no ano anterior com Sex Appeale integrava o elenco de apoio de Fera Ferida, fora solicitada para integrar a produção e dispensada da novela das oito, a pedido de Paulo Ubiratan.
Durante a pré-produção,Tropicaliente fora remanejada das 18h para às 19h, em substituição a Vira-Lata, novela de Carlos Lombardi. A novela que ocuparia o lugar de Olho no Olho passou por problemas de produção, que incluíam o excessivo número de cachorros necessários para as gravações. Com a aprovação do remake de A Viagem, no entanto, Tropicaliente voltou para o horário das seis. E levou consigo a jovem Natália Lage, então cotada paraVira-Lata.
Márcio Garcia (Cassiano), que em Tropicaliente fazia sua estreia em novelas, atuava também como apresentador do MTV Sports.
Tropicaliente foi um sucesso comercial. A fabricante de brinquedos Jak lançou um jogo de tabuleiro no qual promoviam um passeio pela aldeia de pescadores da trama. A Azaleia, na esteira da boa repercussão dos figurinos da trama, lançou uma sandália com a marca Tropicaliente.
O sucesso também se deu no mercado externo. Tropicaliente se tornou a novela brasileira de maior sucesso na Rússia. Conhecida por lá comoTropikanka, a trama fez o público vibrar com a beleza de Sílvia Pfeifer, Carolina Dieckmann e Carla Marins. A repercussão foi tanta que o canal OPT, que transmitiu a novela, estreou Mulheres de Areia na sequência da obra de Walther Negrão, dando à ela o título de Tropikanka 2.
"Vila cenográfica tem cores caribenhas
A cidade cenográfica montada pela Globo na praia de Porto das Dunas, em Aquiraz (a quilômetros de Fortaleza), para gravar Tropicaliente, é na verdade um vilarejo cenográfico.O cenário, cuidadosamente supervisionado pela direção de arte da emissora, conta com nove casinhas de pescadores. Todas têm detalhes coloridos, cumprindo o desejo do autor Walther Negrão de dar cores “caribenhas” à novela.As construções lembram vagamente uma verdadeira vila de pescadores. Perto de qualquer uma, o cenário de Tropicaliente parece uma grande aldeia de milionários. “É bonito isto daqui”, dizia admirado um pescador nativo, que participava de uma gravação como figurante no último dia 30.‘Licença poética’ à parte, as praias e as dunas de Fortaleza foram escolhidas como cenário de Tropicaliente por Paulo Ubiratan, diretor-artístico da Globo, por causa da beleza natural do lugar.“Vale a pena investir aqui”, diz ele. “Mas os custos de uma gravação de novela fora do eixo Rio-São Paulo são muito altos”.Em termos, já que empresas particulares do Ceará patrocinam passagens aéreas e hospedagem para uma equipe de cerca de 60 pessoas, todos os meses. A faixa de praia utilizada para a aldeia cenográfica foi cedida pela Marinha.Segundo Ubiratan, a ideia é manter as construções mesmo depois que a novela terminar. O lugar deve virar um ponto turístico, depois que as casinhas dos pescadores forem transformadas em bares, lojas e restaurantes.Marcelo de Souza; Folha de São Paulo, 15 de junho de 1994."
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